Comentário original postado em:
Prezada Cecília, o cinema realmente começou a perder sua magia com a chegada da televisão. Depois veio o vídeo K-7 a tevê de assinatura, internet e o celular, desmistificando de vez e acabando com todo aquele ritual e expectativa que se constituía em se ir a um cinema. Era algo especial e místico, que se revertia em grande prazer para todo jovem da década de 50/60. Tanto que nessa época - ainda sem tevê - o sonho de consumo de toda garotada, era possuir um projetor. Com o fechamento dos cinemas de rua, houve mais uma perda. Os antigos cinemas eram prédios portentosos, verdadeiros palácios. Lembro quando levado por meu saudoso pai, entrei pela primeira vez em um cinema. Queria saber como tudo aquilo funcionava. A sala estava ainda vazia. Como demorou a começar o filme naquele dia. Acho que tínhamos chegado cedo demais. Ficava eu a olhar para os desenhos nas paredes e insistentemente para trás, pois meu pai tinha me dito que era pelos buraquinhos da parede lá do fundo, que saia uma forte luz e esta trazia as imagens até a grande tela branca, com fotografias em movimento. Era grande a expectativa e ansiedade da espera. Ao iniciar a projeção, eu ali de olhos bem abertos e coração batendo forte, tudo ia se confirmando. Na minha frente, a grande imagem era acompanhada de uma música marcante que indicava perigo. O som de cavalos em disparada invadia toda a sala, podia ver na tela um cavaleiro em desembalada carreira, que fugia de um bando de índios apaches. Era o meu primeiro faroeste. Começava assim a minha paixão pelo cinema, esta arte que reúnem todas as outras e nos faz embarcar em uma grande viagem. O cinema diverte, emociona, informa e nos trás conhecimentos. Alguns dias depois, meu pai precisou ir ao centro pela tarde, para fazer um pagamento no banco e me chamou para ir com ele, pois depois iríamos mais uma vez ao cinema. O filme e o cinema já estavam escolhidos, pois nessa época, além do “carro de propaganda” que saia anunciando o filme pelas ruas da cidade, também era comum as emissoras de rádio divulgar os filmes em exibição dos cinemas do centro. O filme era “O Homem Que Sabia Demais”. Ao passar pela porta do cinema, lembro de meu pai a me puxar pelo braço, pois já estava atrasado. E eu ali parado, hipnotizado com os cartazes. Pronto, ao sairmos do banco, era hora de nos dirigirmos ao cinema. Ao chegar ao mesmo, dois problemas. Além da sessão já ter começado, o filme era impróprio para menores. Meu pai conhecia o porteiro e o mesmo me deixou entrar, pois eu estava acompanhado. Pronto, agora era escolher: ou entrar com a sessão já começada e ficar para a segunda sessão a fim de completar o filme, ou aguardar na sala de espera até terminar a primeira sessão. Optamos por esperar na sala, pois meu pai não gostava de entrar com filme começado. Ao vermos as primeiras pessoas saindo da sala de projeção, era sinal que a sessão estava terminando. Fomos logo entrando para pegar um bom lugar e tendo oportunidade de assistirmos aos créditos finais da sessão anterior. Às vezes havia um pequeno intervalo de uma sessão para outra, dependendo da duração do filme, quando esse era longo, não tinha intervalo de uma sessão para a outra, e sim começava emendando os finais dos créditos, com o cine jornal da sessão seguinte. Nesse caso, o operador deixava as luzes mais fracas acesas, para que os espectadores que ainda estavam entrando, se acomodassem em seus lugares. Mais uma tarde de felicidade e emoção. Hoje fica difícil até você se concentrar no filme, tamanho a balbúrdia em que viraram as salas de cinemas nos Shoppings. O cheiro forte da pipoca, os pés do espectador de trás batendo em sua poltrona, os celulares a tocarem, conversas e piadinhas a toda hora. É uma anarquia generalizada, fruto da falta de educação e de limites. Muitos pensam que estão em suas casas, na sala vendo tevê. Como dizia minha saudosa mãe: “costume de casa vai à praça”. É o que está acontecendo com esses jovens. Infelizmente faltam bons exemplos, educação, respeito e amor ao cinema, que hoje é mais uma diversão dentre tantas outras. Um abraço, Armando
2 comentários:
Oi, Armando!
O seu comentário lá no Cenas me deixou emocionada!
É tão triste que as coisas tenham tomado esse rumo, que a juventude se mostre tão problemática com relação à arte.
Alguns dizem que tudo não passa de um ciclo comportamental e que estamos no momento mais baixo dele. Tomara!
Beijos
Olá!
Será que é geral?
Levei meus netos ao cinema e o público, que girava entre os 6 até os 15/16 de idade, estiveram atentos.
Talvez porque moro numa cidade onde o laser é escasso apesar de ser cidade turística ( o povo que mora e paga impostos que se dane) e ir ao cinema ou tomar um sorvete ou um simples lanche, é um acontecimento.
Acho que depende.
Eu assisto aos meus filmes em casa.
E nem atendo ao telefone.
É assim que a gente não perde as cenas em totalidade e em detalhes.
1 abraço e Boa Sorte.
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